quarta-feira, 13 de março de 2013

Encontro #Crônicas

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Encontro

O encontro estava marcado para as treze horas naquele restaurante próximo ao museu de artes sacras. Eu estava ansioso. Seria a primeira vez que nos veríamos pessoalmente, depois de algumas semanas conversando pela internet. Víamo-nos apenas por fotos e webcam. Ainda hoje guardo na mente a imagem da primeira vez que a vi em foto: cabelos negros, lisos, olhos escuros e amendoados. Um encanto. Usava um vestido de alça, de tom azulado, que graciosamente flutuava sobre seu corpo.
Escolhi um lugar pra dois na sacada com vista para avenida, assim eu poderia vê-la quando chegasse. Pedi ao garçom que trouxesse um suco de pêssego. Enquanto aguardava, escolhia no menu alguns pratos para sugerir a ela. Escolheria um prato leve, peixe ou frango, acompanhado por alguma salada. Muitas das afinidades que descobrimos existir entre nós estavam relacionadas à culinária. Sentíamos imenso prazer tanto em degustar, quanto em preparar pratos variados. Certa vez, contou-me que sua especialidade era massas e que panquecas ao sugo era seu prato preferido. A mim também me agradavam as massas, sobretudo acompanhadas de um bom tinto. Mas o dia estava quente, terrivelmente quente, nem um pouco favorável a massas. Certamente, optaríamos pelos pratos leves. O garçom trouxe o suco. Gelado, pouco açúcar, exatamente como eu gosto. Soava pelo restaurante um agradável som instrumental que me lembrava Caetano. Deveria ser. Vinha de um pequeno palco na parte interna do restaurante, onde um homem dedilhava um violão.
Ela chegou de carro. Um Sedam preto que estacionou do outro lado da avenida sob a sombra de uma árvore. Abriu a porta e pôs um pé pra fora. Sandálias gladiadoras realçavam a beleza dos pés delicados. Óculos escuros. Elegante. Usava um vestido semelhante ao da foto. Contemplei aquela visão como quem aprecia a mais bela obra de arte. Fora do carro, virou-se para trancar a porta ao mesmo tempo em que soltava os cabelos num gesto delicadamente sensual. Pareciam mais curtos do que quando a vi um dia antes. Certamente os cortara para a ocasião. Atravessou uma mão da avenida com um andar sereno e confiante. A brisa cálida movimentava o leve vestido que bailava sobre o corpo harmônico. Que linda mulher... Talvez a mais bela que meus olhos já contemplaram. Uma beleza que encantava, ensurdecia, cegava. Deveras, era mais encantadora de perto do que pela tela fria do computador.
Parou no canteiro e olhou o relógio. Não estava atrasada. Nada importaria se estivesse. Para estar, pessoalmente, com aquela beleza toda a minha frente eu poderia esperar horas. A minha expectativa crescia a cada segundo. Sentia-me como um adolescente esperando a namoradinha no primeiro encontro. Pensava sobre como iríamos reagir um frente ao outro. Mostrávamo-nos completamente à vontade enquanto conversávamos pela rede, ao telefone sua voz era doce e simpática, divertida e extrovertida ao falar, mas pessoalmente havia sempre o frio na barriga.
 Quando se pôs a atravessar a outra via, foi arrastada por um caminhão em alta velocidade.

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